Hoje começa na Escola a Semana
de EDUCAÇÃO PARA A VIDA
Xiko Mendes
Educar para a vida é ensinar a viver. E viver é ser feliz, não apenas
feliz no sentido egoísta, mas, sobretudo, querer que a felicidade seja coletiva,
que homens, animais e todos os seres da Terra sejam igualmente felizes e livres
num ritual de harmonia cósmico-planetária, assinando com a nossa consciência
culpada um pacto de confraternização universal e respeitosa com tudo que é
dotado de vida, e sem destruir nada que impeça a marcha contínua da natureza
rumo ao eterno devir das forças que movem o Universo indefinido, surpreendente,
misterioso.
Educar para a vida é dispensar, temporariamente, as
teorias de compreensão metafísica, as divagações escatológicas ou ontológicas para
nos deliciar com as bizarrices de discussões bizantinas sem se preocupar com o
passar das horas, com o silêncio cúmplice dos incautos, dos arrogantes,
prepotentes e idiotas que se dizem “os sábios que mandam no mundo”.
Educação para a vida não é,
frisa-se aqui, aquela educação que a gente fica entre quatro paredes ouvindo,
quietos e passivos, aquela montanha de informações reproduzidas, acriticamente,
por certos “professores” que não “processam” as informações, apenas as
reproduzem. Educar para viver implica, pois, em contemplar as estrelas,
pacientemente, para encantar-se com a beleza da vida e do universo. Educar para
viver, antes de tudo, significa não escolher a profissão tal porque essa vai
lhe proporcionar muito dinheiro no bolso e, sim, escolher a profissão que lhe é
ditada pela vocação, que lhe dá prazer, que lhe propicia ser feliz.
Educar para a vida é sentar
na rede do alpendre sem se lembrar que a existência humana depende dessa gente
avarenta e gananciosa que tudo faz para que você, desde quando nasce não pense
em outra coisa a não ser competir, competir, passar a perna no outro, vencer
tudo e todos, para ser feliz egoisticamente.
Educar para a vida é sonhar
coisas impossíveis; é ficar horas contemplando o voo de um pássaro; é vivenciar
situações práticas; é construir montanhas de sonhos feitas de utopias que nunca
se realizam, mas que lhe dá prazer e vontade de continuar vivo, lutando
ferozmente para não ser prisioneiro dessa rotina de um mundo biônico-mecânico
que lhe escraviza a consciência crítica e tudo faz para que você apenas lute,
única e exclusivamente, pelo sucesso inspirado em cifras milionárias.
Educar para viver: eis a
mais séria das questões humanas nesse mundo que globaliza a miséria, globaliza
a concentração das riquezas, mas não globaliza a harmonia, não globaliza a paz,
não globaliza a justiça social, não globaliza corações e mentes num só projeto
de integração universal onde o que menos interessaria seria o dinheiro. E tudo
giraria em torno desse desejo reprimido e incontido que é viver, antes de tudo,
para redimir-se, libertar-se, reencantar-se com a vida, deslumbrar-se com o
desconhecido, irritar-se com o rotineiro, amar-se intensamente cada ser humano
independente de credo, cor, religião ou quaisquer convicções.
Educar
para viver é isso: um salto no Infinito, um grito de prazer em grupo, um minuto
de silêncio que se eterniza em nossa consciência como um tiro na hipocrisia
desses que se dizem “os sábios que mandam no mundo”.