sábado, 27 de outubro de 2012

XIKO MENDES encontra texto de GUIMARÃES ROSA citando PLANALTINA-0DF.

Guimarães Rosa, autor de “Grande Sertão: Veredas”, também citou Planaltina, hoje Distrito Federal:

Gente boa, a do Ão, lugar de lugar. Senhor Zosímo, o fazendeiro goiano, desarmou desdém, reconhecendo que se podia gostar demais dali. Esse tinha feito a Soropita, a sério, uma proposta: berganhar aquilo por sua grande fazenda, dele, cinco tantos maior, em Goiás, fundo de rumo de Planaltina. (...). O Campo Frio, se chamava. (...). Senhor Zosímo era homem positivo, tinha sido de tudo, até amansador de cavalos, peão. (...). era mineiro também, arranjara aquela fazenda em Goiás por simpleza do destino”. Trecho do texto “Lão-Dalalão ou Dão-Lalalão”, pesquisado e selecionado pelo historiador Xiko Mendes. Fonte: Rosa, Guimarães. Noites do Sertão, 9ª ed., Rj, Editora Nova Fronteira, 2001, p. 41-42.

Guimarães Rosa é Patrono da Cadeira 32 da Academia Planaltinense de Letras – APL.

sexta-feira, 23 de março de 2012

CARTA ABERTA AO PROF. DENÍLSON BENTO DA COSTA, SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL.

CARTA ABERTA AO COLEGA PROFESSOR DENÍLSON BENTO DA COSTA, atual Secretário de Educação do Distrito Federal e Ex-Diretor do SINDICATO DOS PROFESSORES DO DF (Sinpro-DF).

Dirijo-me, nesse momento, à Sua Excelência, para lembrar-lhe que dignidade, antes de tudo, é nos olharmos no espelho e não envergonharmos das nossas atitudes. Dignidade é não trair nossas convicções, é não trair aqueles que acreditaram em nós. Nesse momento dramático em que centenas de professores (as) lutam pela dignidade profissional e política dessa categoria de aguerridos trabalhadores(as), queremos aqui lembrar um pouco de como Sua Excelência chegou ao mais algo cargo da Educação em Brasília, pois, como diria Jean Paul Sartre, nós somos o que fazemos de nós mesmos.

E Sua Excelência, Professor Denílson, chegou onde chegou porque ao longo de anos nossa categoria acreditou que sua pessoa fosse um defensor da nossa dignidade profissional. Sua Excelência foi eleito Diretor do Sindicato dos Professores por várias vezes porque a base dessa categoria acreditou que sua pessoa fosse de fato alguém convicto da necessidade de valorizar os(as) professores(as). Lembro-me de seus discursos em nossas assembléias, lembro-me de tantos colegas votando em Sua Excelência por considerá-lo porta-voz dos interesses coletivos dessa categoria, lembro-me de sua militância contra governos indiferentes às nossas reivindicações. Tudo o que Sua Excelência é hoje, Prof. Denílson, é resultado da confiança depositada em ti por essa categoria.

Felizmente os governos passam, mas essa categoria aguerrida que se organizou politicamente no fim dos anos 1970, continua firme, inabalável, exatamente porque enquanto pessoas como Sua Excelência abre mão de suas convicções, outros aparecem e irmanados na luta, mantêm viva a chama da nossa mobilização. Sua Excelência lembra de quando o atual Senador e Prof. Cristóvão Buarque, ex-reitor da UnB, era Governador do DF pelo PT? Lembra-se que fizemos duas greves, em 1996 e em 1998, e ele nos humilhou não atendendo nenhuma de nossas reivindicações e deixando-nos por dez anos nas mãos de Roriz e Arruda (1999 – 2009). Sua Excelência sabe de quem foi a culpa?

Sua Excelência sabe qual é a imagem de Lúcia Ivanov, Marcos Pato, Márcio Baiochi e Lúcia Carvalho perante nossa categoria? Pois é, essas foram pessoas que se elegeram várias vezes para dirigir o nosso Sindicato de Professores em Brasília, depois nos traíram. Essas foram as mesmas pessoas que no Governo Cristóvão nos abandonaram. Uns ficaram do lado do Governo e outro(s) do lado do Roriz. Mas hoje onde estão essas pessoas? Estão na lixeira da História dessa aguerrida categoria, pois é fato que o Governo Cristóvão ignorou e marginalizou essa categoria, mas também é fato que a DERROTA DE CRISTÓVÃO em seu projeto de reeleição para governador, em 1998, foi conseqüência da nossa resposta ao descaso com os(as) professores(as) brasilienses.

Quatorze anos após o fim melancólico do Governo Cristóvão Buarque, nos vemos outra vez com ex-dirigentes do Sindicato dos Professores assumindo cargos no GDF. De novo, presenciamos nossos colegas sindicalistas ignorando sua biografia e sua história de luta a favor da Educação sendo trocada por cargos de confiança na estrutura do Estado. Afinal de contas, de que lado Sua Excelência sempre esteve? Será que nesse tempo todo que atuou como sindicalista de nossa categoria, seus objetivos eram simplesmente usar a entidade como trampolim para chegar onde chegou e nos abandonar?

Pois é, Senhor Denílson, ex-diretor de nosso Sindicato dos Professores, nós, enquanto categoria, não vamos esquecer de Sua Excelência e todos os colegas sindicalistas ou não, que hoje ocupam cargos no governo Agnelo, principalmente funções comissionadas nas Regionais de Ensino. Lembre4-se, Senhor Denílson, que os governos passarão e, mais uma vez insistimos, com Sartre: NÓS SOMOS O QUE FAZEMOS DE NÓS MESMOS.

Como Sua Excelência, Secretário Denílson, conseguirá olhar para cada professor(a) que votou em sua pessoa para DIRETOR DO NOSSO SINDICATO? Como Sua Excelência consegue, hoje, olhar nos olhos de cada um dos atuais diretores do nosso Sindicato, que são pessoas com quem o Senhor sempre esteve junto, fazendo piquete, articulando acordos políticos para se reelegerem infinitamente para a Direção do nosso Sindicato?

Confesso-lhe uma coisa muito triste: gente que tem dignidade não conseguirá olhar nos olhos dos próprios colegas em situações como essa acima. E essa categoria tem dignidade. E nós estaremos por todo o sempre, em todas as futuras greves, em todos os atuais e futuros piquetes, lembrando que o Senhor Denílson lamentavelmente escolhe nesse momento a opção de se inserir na mesma lista de ex-diretores do nosso Sindicato e que foram, politicamente, enterrados por essa categoria.

Sua Excelência, Professor Denílson (Ex-diretor do nosso Sindicato), assim como todos os colegas professores (as) que ora ocupam cargos no GDF ainda têm, nesse momento, a oportunidade de dizerem às suas próprias consciências, para seus filhos e para essa categoria, qual é o lado de vocês. Eu não tenho vergonha de dizer que apoiei o Governador Agnelo Queiróz, mas nesse momento eu tenho lado: o lado da minha categoria. Na greve de 1998, eu renunciei ao meu cargo de Dirigente de uma escola em Planaltina e para o qual tinha sido eleito, para ficar ao lado dos meus colegas grevistas. O que ganhei com isso? Ganhei o respeito dos meus colegas e garanti minha dignidade. Esse é o recado que deixo à Sua Excelência, Prof. Denílson, e aos nossos colegas que ora preferem ficar no GDF em vez de lutar conosco. Abraços!


Professor e escritor XIKO MENDES (Há 18 anos na luta). Bsb, março/2012.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

INTERDISCIPLINARIDADE (texto de XIKO MENDES).

PROJETOS INTERDISCIPLINARES:
sua escola precisa trabalhar com eles!

“Um educador é um fundador de mundos, um mediador de esperanças, um pastor de projetos”. (Rubem Alves).

Xiko Mendes

A interdisciplinaridade é, hoje em dia, um dos projetos adotados por escolas inovadoras cuja concepção fundamenta-se nos princípios eco-pedagógicos da Educação do Futuro – aquela que, ao se preocupar com a formação do Novo Homem no século XXI, oferece-lhe diferentes visões sobre a realidade que o cerca, sobretudo procurando fazê-lo compreender tudo por meio de percepções holísticas. O pensamento holístico ou sistêmico tem como finalidade perceber as coisas como um todo e não em partes – como é comum na transmissão do conhecimento pelo professor de cada disciplina. Construir uma visão de mundo não fragmentada da realidade é o objetivo mais importante na aplicação e avaliação de projetos interdisciplinares.
A Eco-pedagogia – com o seu conjunto de propostas para um novo processo de ensino-aprendizagem onde as interações Homem-Natureza são percebidas como um todo a ser valorizado mutuamente – é a base desse novo pensamento. Com ela a escola abandona a velha didática baseada no pensamento mecanicista cartesiano, predominante desde o século XVI, que criou o “mundo dos especialistas que se dizem entender tudo de apenas uma coisa”, mas ignoram tudo o que está fora de sua área de especialização. Esse tipo de educador precisa adquirir essa nova percepção norteadora de um novo olhar sobre formas de produção e aquisição do conhecimento sob diferentes pontos de vista.
A Interdisciplinaridade não é só um trabalho integrado em que professores de diferentes disciplinas se juntam para desenvolver uma atividade pedagógica comum (um tema gerador, por exemplo). Ela é mais que isto: é a possibilidade que o educador tem de interagir o seu saber com o saber dos outros professores, dos pais, dos alunos... compartilhando contatos, troca de idéias e mistura de percepções (visão sinestésica das coisas) por meio das quais a formação do futuro cidadão vai se construindo com base na filosofia da práxis. A práxis é essa nova visão de que a escola tem ao mesmo tempo a missão de ensinar a teoria testando-a na prática político-pedagógica do professor e confrontando o aluno com a realidade que ele vivencia e onde vive.
A interdisciplinaridade, assim entendida, só tornar-se-á possível quando a maioria dos professores permitir essas diferentes interações (professor/professor; professor/pais/alunos, entre outras) como prova de que todos são portadores de saberes indispensáveis à compreensão do mundo e à transformação dele. Para isso, o professor precisa reconhecer, antes de tudo, que não sabe de tudo. Esse é o primeiro passo para a construção de PROJETOS INTERDISCIPLINARES porque o sucesso deles dependerá do envolvimento de todos, do desejo que todos têm em aprender com o outro o que não sabia ou de reaprender o que fazia com uma outra ou nova visão sobre o fazer.
Conhecer e valorizar o município de Formoso implica, pois, nessa necessidade de todos os professores se envolverem com a prática dessa nova concepção de educação que enxerga a formação do cidadão formosense não apenas como tarefa exclusiva do Professor responsável pelo PROJETO HERMES – História Especializada em Realidade Municipal com Estudos Socioambientais – mas de todos nós, Povo e professores de outras disciplinas. Com essa missão delegada a cada colega professor, apresentamos aqui apenas DUAS SUGESTÕES de projetos interdisciplinares que sirva de ponto de partida. E que as escolas de Formoso construa vários deles com sucesso.

IN: MENDES, XIKO. ECO-HISTÓRIA LOCAL: FORMOSO EM SALA DE AULA, Unifam, 2007.

POEMA DE XIKO MENDES SOBRE EDUCAÇÃO.

Um Professor Indignado com os Malditos “Anjos de Azul”

                                                                 Xiko Mendes

Eles vêm à sorrelfa no meio da noite;
São íncubos: sugam neurônios e axônios;
Fazem apologia da ignorância e da cleptocracia;
Detestam gente que tem consciência política.
A Política, para eles, é a arte de matar cérebros.
Uns fingem ser amigos da gente;
Só para nos cooptar.
Quando vêem que alguns de nós
Colocam as convicções acima dos cargos,
Dos subornos e da troca de favores,
Aí se afastam, nos retaliam.
Na pedagogia desses malditos Anjos de Azul
Quem não reza na cartilha chapa branca
É transferido de escola ou até de cidade;
É vítima de perseguição política.
A “Justiça” é a deles!
Não há critérios na tomada de decisões;
O critério é ser “amigo do rei”.
Adversários não têm direito de defesa!
Odeiam Professores que questionam muito,
Que não reproduzem a ideologia burguesa do
Livro Didático Preto ou Azul.
Amam professores alienados,
Que trazem esquemas prontos, decorados;
Que brigam para dar aulas sempre nas mesmas turmas.
Sabem por quê?
A Alienação transforma o Homem
Porque retira dele o direito de ser ele próprio.
Fui condenado por eles a sempre mudar de escola.
Dizem que sou “maluco”, falo demais, questiono demais!
Mas adoro ser louco.
A Loucura é o Suspiro da Razão!
Só os loucos não furam greve;
Só os loucos recusam as bênçãos dos Anjos de Azul!
Só os loucos fazem cumprir a profecia de Paulo Freire:
“A Leitura do Mundo precede a Leitura da Palavra”.